Resenha: Priscilla, A Rainha do Deserto

Certo dia estava procurando algo pra assistir e me deparei com "Priscilla, A Rainha do Deserto" no Prime Video, e como já tinha muito tempo desde a última vez que vi, decidi pegar a estrada outra vez com essas flores do deserto australiano.

Foto: Reprodução

Dirigido e roteirizado pelo Stephan Elliott e lançado em 1994, o enredo de "Priscilla" apresenta Anthony (interpretado pelo Hugo Weaving), Adam (interpretado pelo Guy Pearce) e Bernadette (interpretado pelo Terence Stamp), duas drag queens e uma mulher trans viúva, atravessando o deserto para fazer um show na cidade de Alice Springs. No entanto, o Anthony se depara com o dilema de reencontrar sua grande amiga Marion (interpretada pela Sarah Chadwick) com quem ele tem um filho pré-adolescente que aparentemente não sabe sobre a sua profissão.

Os anos que precederam Priscilla não foram nada fáceis para a comunidade LGBTQIA+. Foi uma época que a comunidade ainda vivia à sombra da pandemia da AIDS que afetou a todo o mundo durante a década de 80, porém, esse filme carrega uma leveza, graça, doçura e humor capazes de ensolarar os dias mais sombrios. A trilha sonora é um estouro de bom gosto e alto astral.
Na abertura do filme, quando a drag Mitzi (Hugo Weaving) dubla a canção "I've Never Been to Me", da cantora Charlene, hipnotiza tal como o canto de uma sereia. Sem contar com a emblemática sequência em que o trio Mitzi, Felicia (Guy Pierce) e Bernadette dublam, cantam e dançam "I Will Survive" da Gloria Gaynor, com os aborígenes, à noite, no meio do deserto.

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O figurino é um espetáculo. Não foi à toa que Lizzy Gardiner e Tim Chappel ganharam o Oscar em 1995 por esse filme. É um look mais irreverente, divertido, excêntrico e colorido do que o outro. Estão à altura dos atores Hugo, Guy e Terence que encarnam com muito carinho, entusiasmo e responsabilidade seus papéis. É muito difícil não ser cativado pela insegurança e equilíbrio de Tick/Mitzi, da alegria, deboche e espontaneidade de Adam/Felicia e da delicadeza e seriedade de Bernadette. As personalidades distintas temperam a aventura da melhor forma possível.

Como todo bom filme-de-estrada que se preze, em "Priscilla, A Rainha do Deserto" os personagens vêm e vão, diante de situações adversas, expostos à generosidade, excentricidade, violência e romance que contribuem no fortalecimento de laços e que sinalizam para onde seus passos irão.
No último ato do filme, quando todos se reúnem, é divertido e melancolicamente belo o encontro de Anthony com o filho. Há um diálogo, entre eles, que só mostra o quanto que uma educação amorosa e inclusiva faz diferença na vida de qualquer pessoa.
O filho não só recebe o pai com os braços abertos, como o admira pelo trabalho que faz como drag. Curiosamente, esse otimismo está longe de parecer algo forçado, muito pelo contrário, o filme mostra o lado glorioso desse pequeno fragmento de realidade, que, quase sempre, vive imersa em ondas de violência e que, geralmente, nos empurra à descrença de que as coisas irão melhorar.

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Apesar desse sentimento agridoce, o que prevalece em "Priscilla, A Rainha do Deserto" é uma esperança imaculada. É um filme à frente do tempo, e que consegue através do humor, irreverência e trilha sonora, quebrar barreiras do público e da crítica até os dias atuais.

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