Resenha: Cassandro
O Prime Video parece que descobriu que vale a pena sair do armário. Depois de “Meu Policial” e “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, ainda tem o ótimo “Cassandro”.
Dirigido pelo Roger Ross Williams (diretor do documentário "Life, Animated", indicado ao Oscar em 2017) e baseado numa história real, "Cassandro" carrega uma visão mais otimista, simples e direta da trajetória de Saúl Armendáriz (interpretado pelo Gael García Bernal). Um lutador mexicano de Lucha Libre que se tornou uma lenda da luta com seu estilo exótico nos ringues. O enredo apresenta Saúl descontente com a sua rotina de lutas repetitivas até que vê uma chance de mudar ao aderir um novo estilo mais irreverente, afeminado e exagerado, sugerido pela amiga e treinadora Sabrina (interpretada pela Roberta Colindrez).
O que o ator Gael García Bernal tem de baixa estatura tem de talento, presença, força e carisma. E não teria como ser diferente ao interpretar Saúl/ Cassandro. Ele realmente faz tudo parecer fácil sem perder o tom. Um outro ator, menos experiente, poderia deixar o filme oco, mas Gael brilha de todos os lados, fora ou dentro desse “teatro”.
A atriz Perla de La Rosa, que interpreta Yocasta, mãe de Saúl, é excelente. A sua relação com o filho é muito tocante e o ponto alto de emoção na história.
Quanto a produção, eu realmente amei a elegância da fotografia do Matías Penachino. O aspecto da tela 4:3 é sempre um charme a parte. Existe uma aparência de filme independente, simples mas ao mesmo tempo exuberante, um roteiro bem escrito, mas infelizmente o desfecho é muito ligeiro e intimista. Termina às pressas, sem a força que deveria e poderia.
O roteiro, co-escrito pelo diretor, parece flertar, às vezes, com a narrativa clássica dos filmes de herói, o que achei muito envolvente. Para os românticos de plantão, é importante destacar que o filme não é tão romântico. Existe um envolvimento secreto com Gerardo (interpretado pelo Raúl Castilho), um flerte com Felipe (interpretado pelo Bad Bunny, numa participação pequena) mas o foco mesmo é a vida de Cassandro com os dilemas profissionais e familiares.
Antes de ver o filme, não conhecia nada sobre a Lucha Libre e achei curioso o aspecto teatral que o "espetáculo" tem. Parece uma apresentação cênica, estranhamente coreografada, mas que é levada muito a sério pelo público que assiste. É interessante ver Cassandro se divertindo, rebolando, dançando, em meio às incontáveis vaias e ofensas calorosas, que não demoram muito e se transformam em pura aclamação. Esse ato representa, literalmente, a forma como Saúl atropelou o machismo e homofobia ao se tornar Cassandro.
Nos últimos anos, outras cinebiografias queer foram lançadas com um certo êxito, como foi o caso do "Bohemian Rhapsody" de 2018, dirigido por Bryan Singer, e o "Rocketman" de 2019, dirigido pelo Dexter Fletcher. No entanto, eu tenho muitas ressalvas quando a essas produções. Infelizmente, nenhuma delas me tocou realmente. Por outro lado, existem algumas cinebiografias menores como a do cantor português António Variações no filme "Variações" de 2019, dirigido pelo João Maria, que me valeu mais a pena, assim como "Cassandro", que não é aquele filme de grande orçamento ou que vai tirar seu fôlego, mas é uma produção inesperadamente bonita, agradável e fora da curva.
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