O Mar Recomenda: Ernest & Celestine
Baseada na série de livros infantis escritos pela autora belga Gabrielle Vincent em 1981, "Ernest & Celestine" é uma daquelas animações que qualquer grande estúdio gostaria de ter produzido pra chamar de sua.
Lançada em 2012 e dirigido pela Stéphane Aubier, Vincent Patar e Benjamin Renner, o enredo apresenta um solitário, humilde, amargurado e multi-instrumentista urso, chamado Ernest (voz de Lambert Wilson) que mora num casebre e tenta trabalhar pelas ruas da cidade mas é sempre perseguido por policiais, que o impedem de tentar viver dignamente.
No subterrâneo da cidade, mora Celestine (voz de Pauline Brunner), uma jovem ratinha orfã que vive à procura de dentes que sirvam para os outros ratos que moram na grande e desenvolvida colônia.
Ursos e Ratos não se bicam, mas numa noite, enquanto procura por comida nos lixos, Ernest encontra Celestine que havia ficado presa numa das latas após uma confusão engraçadíssima envolvendo uma família de Ursos. Apesar da fome e da dinâmica social entre as espécies, Celestine quebra o auto isolamento de Ernest e, aos poucos, os párias de suas respectivas comunidades vão se tornar uma família.
Eu não sei como demorei para ver esse filme. Mesmo que eu tivesse criado expectativas, sinto que todas elas seriam superadas. A dublagem original é sensacional, assim como a sonoplastia excelente, responsável pela imersão capaz de te trazer de volta de qualquer distração que aconteça durante o filme. O visual tem um aspecto simples de fino traço, com margens brancas que lembram imagens saídas de livros, mas ao mesmo tempo apresenta sequências complexas que criam uma marca elegante, doce e deslumbrante. A criatividade transborda por todos os lados, e um exemplo disso é o mundo subterrâneo criado pelos ratos. É algo que me deixou absolutamente encantado, pois não se trata apenas do conceito, e sim de como é apresentado tão cheio detalhes.
Algo muito interessante e que me deixou surpreso é de como a narrativa desse filme me permitiu criar elos com a temática queer. A começar pelo fato da relação entre ursos e ratos ser mal vista pela sociedade. A amizade quase maternal entre Ernest e Celestine, que o coloca numa posição facilmente atribuída culturalmente a imagem de uma mãe, sendo que antes desse encontro, Ernest contava com uma vida solitária, e em nenhum momento é sugerido algum tipo de interesse amoroso, até porque toda a atenção dele é voltada para sua própria sobrevivência. É claro que, com base nisso, existam muitas possibilidades que vão desde assexualidade à homossexualidade. Em um rápido momento, o texto parece indicar um contexto guei, durante uma conversa de Celestine com o juiz Urso. Contudo, essa análise parte apenas do meu ponto de vista pois nada foi dito pelos responsáveis da produção sobre esse "ser ou não ser".
Com um roteiro inteligente, ótimo senso de humor, ritmo delicioso e uma dublagem tão boa quanto o barulho da chuva, Ernest & Celestine entrou rapidamente no hall das minhas animações favoritas. Desse filme foi lançada uma série, e em 2022 foi lançado a continuação em longa-metragem chamado "Ernest et Célestine le Voyage en Charabie". Se não viu, se dê esse prazer.
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