Resenha: Mundo Estranho

Lembro que quando saí da sessão de "Mundo Estranho" no cinema, senti uma emoção meio agridoce. Eu realmente não queria me sentir tão pouco entusiasmado com um filme carregado de tanta relevância, como, por exemplo, a chegada do primeiro protagonista assumidamente gay na linha temporal dos clássicos do estúdio. Felizmente, à segunda vista, a experiência foi um pouco melhor.

Dirigido por Don Hall (Bih Hero 6 e Raya e O Último Dragão) e co-dirigido e roteirizado por Qui Nguyen, "Mundo Estranho" pode não ser uma produção memorável de um modo geral, mas é preciso que seja reconhecida positivamente em alguns aspectos.

O enredo apresenta uma região, localizada entre as montanhas, chamada Avalonia, onda mora a família Clade, composta pelo adolescente Ethan (voz original de Jaboukie Young-White), e seu pai e sua mãe, Searcher (voz original de Jake Gyllenhaal) e Meridian (voz original de Gabrielle Union), e o adorável cachorro Legend.
A família vive da agricultura, mas assim que uma praga estranha começa a ameaçar a terra, alguns conhecidos reapareçam dispostos a saírem junto com Searcher em uma exploração para entender o que tá acontecendo e resolver.
Searcher é filho do grande explorador Jaeger Clade, mas não tinha intenção de seguir os passos desbravadores do pai, o que provocou na quebra da relação. Essa mesma dinâmica conflituosa recai sobre Searcher com o filho Ethan. Apesar disso, Searcher se esforça para ser o melhor pai que pode, inclusive apoiando e "ajudando" o dilema afetivo de Ethan em relação a Diazo (voz original de Jonathan Melo).

O argumento de "Mundo Estranho" trata sobretudo da influência humana sobre o meio ambiente e como toda ignorância, negligência e egoísmo aceleram essa destruição. Um assunto de extrema importância, considerando todas as consequências acompanhadas pelo aquecimento global.
Acho interessante a maneira como o estúdio está se afastando dessa narrativa dualística do bom contra o mau, mas, às vezes, a forma como se conta a história pode atrapalhar todo o resultado. Infelizmente, o ritmo de "Mundo Estranho" se perde tanto quanto a equipe de exploradores durante a viagem.

Foto: Reprodução
O revolucionário formato 3D, mesmo ainda sendo exuberante, não tem o mesmo impacto de antes. Não é à toa que "Homem-Aranha: No Aranhaverso" de 2018, e "As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" de 2023, surpreenderam o público e crítica com um formato híbrido, ou seja, usando várias texturas e estilos de animação distintos.
Em "Mundo Estranho" faltaram "pontes" que atravessassem o público. Poderia ser com alguma música tema e até mesmo na criação de elos com outras obras com forte impacto como "Avatar: O Caminho da Água", lançado no mesmo ano, através do marketing. Ambas produções convergem sobre preocupações ambientais.
A desvalorização do estúdio quanto ao lançamento desse filme pareceu um verdadeiro auto boicote. Lançá-lo no cinema sem divulgá-lo devidamente é algo que faz jus ao título. O resultado disso é que a maioria do público não soube na época e ainda nem deve saber da existência desse clássico.
Foto: Reprodução

A ambientação fantástica com todas aquelas criaturas estranhas, infelizmente, me fazer cair no vale da estranheza. Admito que fiquei um pouco incomodado com todos aqueles seres vivos e organismos abstratos, com traços ameaçadores e que emulam insetos gigantes. Foi coerente, mas incomodo.
Por outro lado, essa mesma estranheza passa a ser justificável, e até interessante, com o elemento surpresa do filme. Fica, então, uma reflexão: O que fazer quando a real ameaça vem de quem está tentando ajudar?
Toda a inclusão étnica e racial, a representatividade queer mais otimista (que não ficou só na coadjuvação) e o apelo ambiental são o grande trunfo de "Mundo Estranho", e espero muito que futuras audiências possam receber melhor o que esse estranho mundo tem a oferecer.

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