Resenha: NIMONA


Baseado na Graphic Novel de ND Stevenson e dirigido por Troy Quane e Nick Bruno (Um Espião animal), Nimona nasceu pra fazer história. Anos depois de ser engavetada pela Disney, após a compra e encerramento das atividades do estúdio Blue Sky, que era o responsável pela produção do filme, Nimona foi salva pela Netflix, que se juntou ao estúdio Annapurna Pictures, para recuperar e finalizar a produção, que já estava quase concluída.
O enredo nos apresenta um cavaleiro chamado Ballister (Riz Ahmed), que após um misterioso atentado fatal, torna-se um foragido sendo acusado de um crime que não cometeu. Enquanto ele tentar articular um plano em seu exílio, Nimona (Chloë Grace Moretz), um ser metamorfo, o convida para uma parceria, decidida então a ajudá-lo a resolver essa situação por meios nada ortodoxos.
A animação tem como base um excelente material escrito pelo ND Stevenson em graphic novel, lançada no Brasil pela editora Intrínseca em 2016. O filme não segue a risca o enredo original, mas consegue reestruturá-lo sem muitas perdas, mantendo a essência, que eu particularmente considero mais importante. Um dos grandes destaques da animação comparada a graphic novel foi em deixar a amor entre Ballister e Ambrosius mais evidente e expressivo.

Foto: Reprodução

No quesito de dublagem, a interpretação do elenco de Nimona é digna de prêmios. A atriz Chloë Grace Moretz (500 Dias com Ela e Kick-Ass) está explosiva, radiante, extremamente espirituosa e divertida dublando Nimona. O ator britânico Riz Ahmed (indicado a Melhor Ator no Oscar por "O Som do Silêncio"), que dubla o Ballister, tem um sotaque bem diferente, imprimindo um charme e graça à seriedade do seu personagem. Importante ainda falar de algumas participações especiais como a dupla de repórteres, dublada pela Indya Moore (Pose) e RuPaul.
Como quase sempre, durante a produção de uma animação, a escolha dos dubladores pode influenciar na concepção visual dos personagens. Por exemplo, o Riz Ahmed e Eugene Lee Young possuem, respectivamente, descendência paquistanesa e sul-coreana, e, diferente do livro, a aparência deles está diretamente ligada ao fenótipo dos atores, gerando mais representatividade na animação.

E falando nisso, Nimona, é o primeiro personagem não-binário protagonista de um longa de animação. Se isso não for histórico, então não sei o que é. A natureza metamorfa pra conceituar a não-binaridade foi uma ideia de gênio.
Uma mudança em relação à historia original que eu achei bem interessante foi sobre a origem dos poderes de Nimona. No livro, uma bruxa, em situação de perigo, dá poder à Nimona para que ela possa ajudá-la. Na animação, não há uma razão que venha de fora, Nimona é o que é.

Foto: Reprodução

Nimona nos convida a repensar sobre a sociedade. Existem elementos relacionáveis com a política, religião, suicídio e especialmente sobre questões de gênero. Às vezes de um jeito sutil, mas muito sincero, divertido e emocionante. É algo que eu nunca vi em alguma outra animação. O formato híbrido que mistura 3D com 2D foi uma decisão criativa genial já que trata-se de um reino medieval com ar futurista. Foi melhor mesmo quanto a Disney, ou algum outro estúdio que preze pelo tradicional em detrimento de determinadas pautas, não continuar com a produção. Nas mãos erradas, Nimona não seria metade do que nasceu pra ser.
Desde Shrek e Shrek 2 que não assisto uma animação tão audaciosa, transgressora e corajosa feito Nimona. Eu estou tão feliz, tão feliz que esse filme exista, é como se fosse um sonho realizado. Merece ser aplaudido por 1 hora, 1 dia, 1 mês, pra sempre. Um final feliz para um projeto tão necessário, especial e com imensa representatividade queer.

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