O Mar Recomenda: Meu Amigo Robô

O filme "Meu Amigo Robô" é uma animação que entrou no hall das melhores produções que passariam longe dos destaques do ano, mas felizmente não é esse o caso.

Da mesma maneira que aconteceu com animação brasileira "O Menino e O Mundo" do Alê Abreu (que concorreu ao Oscar de Melhor Animação de 2016) essa animação possui uma baita personalidade visual além da força que invoca a mais pura arte da emoção e reflexão.

Produzido pela Arcadia Motion Pictures, Noodles Production e Les Film du Worso e dirigido pelo Pablo Berger e co-roteirizado com Sara Varon, "Meu Amigo Robô" é uma produção entre Espanha e França, que mostra alguns dilemas atemporais da vida, através da relação afetiva entre um Cachorro com seu Robô.

Adaptada da graphic novel de Sara Varon lançada em 2007, o enredo apresenta um mundo antropomórfico, onde o Cachorro protagonista não consegue encontrar sentido na sua solidão e decide então comprar a grande novidade do mercado: Um Robô (para chamar de seu). O negócio não poderia ser melhor. Eles se tornam grandes amigos, vivem momentos de pura satisfação e alegria, até um infortúnio mudar tudo.

O que não faltará por aí são elogios a essa animação, que segue o mesmo visual dos quadrinhos que a originou. A maneira como as imagens são expostas transmite uma sensação muito definida de profundidade clara, rica em detalhes, mesmo realizada em traços simples. O filme não tem diálogos falados, mas se sustenta tão bem que provavelmente você nem sentirá falta. Ele não é longo ou cansativo, mas o problema, a meu ver, foram algumas decisões narrativas que amargaram um pouco a minha experiência.

Uma delas (que dá sentido ao nome do filme original — Robot Dreams), parte de uma situação que me lembrou a marcante performance artística "Ritmo 0" da artista sérvia Marina Abramović.

Sei o quanto que a vida é imprevisível e que arte não existe só para nos fazer feliz, e sim questionar e refletir, mas, sem levar em conta a fidelidade com o material base, que eu ainda não conheço, algumas situações do roteiro me deixaram muito incomodado, não só pelo que é retratado mas porque me pareceram saídas injustas e um tanto forçadas, o que me faz pensar que se fosse um filme de média-metragem seria muito melhor.

O que torna, a meu ver, "Meu Amigo Robô" uma clássico instâtaneo é o desfecho da história e é devido a ela que eu recomendo. Não dá pra fugir do impacto que causa. É pra sorrir, dançar e chorar ao mesmo tempo. E de todas as produções que contaram com a presença da música "September" do Earth, Wind & Fire, a desse filme foi a melhor.

Indicada ao Oscar de 2024 na categoria de Melhor Animação, "Meu Amigo Robô" desbancou vários concorrentes de peso, e apenas com esse feito já ganhou o reconhecimento merecido, melhor até que o próprio prêmio.