Resenha: Cuidado com Meu Guarda-Costas

O cinema dos anos oitenta é recheado de filmes com um charme atemporal, tais como "Curtindo A Vida Adoidado" de 1986, "Dirty Dancing" de 1987, "Uma Secretária de Futuro" de 1988, e um pouco mais atrás, o esquecido "Cuidado com Meu Guarda-Costas" ("My Bodyguard").

Dirigido pelo Tony Bill, e lançado em 1980, o longa apresenta a história de Clifford (interpretado pelo Chris MakePeace), um garoto que mora num luxuoso hotel com seu pai e gerente (interpretado pelo Martin Mull) e sua divertida avó (interpretada pela Ruth Gordon).
Na escola, Clifford é perseguido por um grupo de garotos, liderados por Melvin (interpretado pelo Matt Dilon) até a chegada de Ricky (interpretado pelo Adam Baldwin), um aluno que causa medo em todos os outros da escola.
Para escapar da perseguição, Clifford propõe a Ricky que ele seja seu guarda-costas. Após muita insistência de Clifford, Ricky acaba cedendo e os dois começam uma amizade que vai além desse pacto.

Foto: Reprodução

Existem várias coisas neste filme que merecem destaque. As filmagens externas, por exemplo, me cativaram. Passeei por uma Nova York exuberante, mas também decadente — como quase todo centro urbano. É uma verdadeira volta no tempo e ainda melhor quando vista em alta definição.
Apesar de fazer meu sangue ferver de agonia em alguns momentos, a forma como a história é desenvolvida sem pressa deixa tudo muito leve, como se fosse uma eterna manhã, especialmente quando a atriz Ruth Gordon entra em cena como a avó espoleta de Clifford.

Imortalizada pelos filmes "O Bebê de Rosemary" e "Harold & Maude", a atriz Ruth Gordon transmite uma sede de viver, um jeito positivo e jovem de lidar com as situações que é difícil não ser cativado. Ela abrilhanta ainda mais o filme.
O ator Chris MakePeace tem uma doçura natural e uma transparência cênica irresistível — seria ele um verdadeiro Timotheé Chalamet da sua época?
O ator Adam Baldwin desperta uma ternura que é potencializada não só pelo trauma do seu personagem, mas também pela relação com Clifford. Do lado antagonista, tem o ator Matt Dilon, que está charmoso e asqueroso como o cruel valentão covarde da escola, Melvin.
Esse filme foi o debut de vários artistas que se tornaram astros e estrelas de Hollywood, como o Matt Dilon e a Joan Cusack (indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em "Uma Secretária de Futuro" em 1989).

Foto: Reprodução

Passeando por alguns fóruns de cinema, pude ver que os poucos comentários sobre esse filme levantam um status queer, e isso, a meu ver, fez muito sentido. Apesar de não haver nenhum tipo de interação declaradamente romântica entre Clifford e Ricky — e nem sempre precisa ter para ser — os dois criam um laço afetivo que se encaixa em muitas outras obras com apelo, explicito ou não, à temática queer. E um desses elementos (que parece rodear tanto a vivência heterossexual ou guei, dentro do conceito de liberdade e rebeldia) é a moto de Ricky. O momento em que os dois saem juntos pela cidade, montados na moto, é um dos mais bonitos. Poderia facilmente equipará-lo com a cena musical de "O Mundo Ideal", em "Aladdin".
Essa relação pode ser entendida apenas como uma relação de amizade legítima e pura, mas tal ângulo sempre vai ser definido pelo repertório e da disposição do espectador em reinterpretar aquilo que não se vê, como já citei na resenha de "Luca".

Embora a violência nas escolas não tenha mudado tanto quanto os recursos tecnológicos, tais como celular, o acesso à internet e as redes sociais, certos filmes conseguem capturar com o passar do tempo uma atmosfera muito singular que os tornam incomparáveis a qualquer outro e "Cuidado com Meu Guarda-Costas", é um belo exemplo disso.

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