Resenha: Deserto Particular
Disponível na plataforma Max, "Deserto Particular", ressoou em mim mas como drama do que romance. Existem momentos românticos cheios de delicadeza, mas o espectador que esperar o formato convencional do gênero pode se sentir um pouco decepcionado, mas não menos encantado.
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Foto: Reprodução |
Dirigido pelo Aly Muritiba, roteirizado em parceria com Henrique dos Santos e lançado em 2021, "Deserto Particular" fala sobre Daniel (interpretado pelo Antonio Saboia) um policial que foi afastado do trabalho devido a um caso de violência, e que ao mesmo tempo cuida do seu pai que está em declínio das habilidades mentais.
Com a vida virada do avesso, o único ponto de equilíbrio e acolhimento do ex-policial é uma mulher chamada Sara, com quem ele mantém um relacionamento virtual. Porém, quando Sara para de respondê-lo, Daniel vai de Curitiba a Sobradinho (Bahia), à procura dela. O enredo se desenvolve justamente a partir da ruptura do começo dessa relação amorosa.
Em Sobradinho, Daniel conhece Fernando (interpretado pelo ator Thomás Aquino), que tenta articular o encontro entre ele e amiga Sara, que na verdade se chama Robson (interpretado pelo ator Pedro Fasanaro). O encontro provoca uma torrente de emoções represadas em cada um dos dois.
Cada cena, através da cinematografia, sugere algo crucial para compreender a essência dos personagens, desde o desejo sexual até o peso da repressão. Um exemplo disso é o início do filme carregado de momentos capturados através de frestas de porta, e à medida que Daniel embarca em sua busca por Sara, os enquadramentos se expandem, sendo preenchidos com tonalidades cada vez mais quentes. Outro momento muito marcante é quando Daniel está em frente a uma barricada de rochas num momento de alta descarga emocional que o leva a quebrar o gesso que envolve seu braço. É uma sequência que expõe os anos cheios de desejos reprimidos e a vontade de se libertar.
Os traços do roteiro que mais cativam tratam da fragilidade das relações contemporâneas, religião, fluidez de gênero e amadurecimento.
Ovacionado no Festival de Veneza, “Deserto Particular” foi selecionado para representar o Brasil na busca por uma indicação ao Oscar de 2022 na categoria de Melhor Filme Internacional. Infelizmente, devido à falta de apoio e preparação adequada da Academia Brasileira de Cinema, este é mais um filme que não conseguiu alcançar o reconhecimento que merece nas premiações mais prestigiosas da indústria. No entanto, a verdadeira grandeza de um filme nunca é diminuída por isso. Com temas que provocam reflexão e debate, “Deserto Particular” se consolida como um verdadeiro clássico.
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