O Mar Recomenda: O Caminho para El Dorado
Depois da mudança do milênio e com a predileção do público às animações em 3D (como "Toy Story" de 1995 e "Vida de Inseto" em 1998, ambos da Pixar, e "Formguinhaz de 1998 da DreamWorks), uma das poucas animações remanescentes do formato 2D chamada "O Caminho para El Dorado" (The Road to El Dorado, EUA, 2000), mesmo sendo radiante e charmosa, não conseguiu trazer um retorno lucrativo à DreamWorks na época do seu lançamento. Mas, como bilheteria nem sempre é sinônimo de qualidade, esse resultado é mais reflexo do contexto do que da obra em si.
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Foto: Reprodução |
Dirigido por Bibo Bergeron, Don Paul e Jeffrey Katzenberg e com o roteiro dos ótimos Mark Swift, Ted Elliott e Terry Rossio, o enredo se passa no século XVI, na cidade de Servilha, ao Sul da Espanha e traz dois amigos, Túlio (Kevin Kline) e Miguel (Kenneth Branagh) criando confusão e estripulias até conseguirem um mapa que os levará para a lendária cidade perdida repleta de ouro chamada El Dorado. No entanto, ao encontrarem a cidade, os nativos os confundem com os deuses de uma profecia e assim passam a tratá-los. No entanto, o sonho do casal começa a degringolar ao serem percebidos como meros mortais pelo fanático e maquiavélico xamã Tzekel-Kan (Armand Assante).
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Foto: Reprodução |
A excelente trilha sonora sonora, assinada pelo compositor Hans Zimmer e John Powell, com letras de Elton John e Tim Rice, traz canções contagiantes como "El Dorado" e "Na Trilha que Deixamos", tornando a aventura ainda mais envolvente. Quanto ao roteiro, uma decisão que sempre me anima trata da relação entre Túlio e Miguel com uma das nativas de El Dorado chamada Chel (Rosie Perez).
Sabe-se que, por muito tempo, assuntos relacionados a homossexualidade e bissexualidade foram codificados no cinema, ainda mais quando se fala em animações — um estilo popularmente atribuído ao público infanto-juvenil.
Atualmente, a representatividade não está mais numa área tão cinzenta, mas "O Caminho para El Dorado" está um pouco à frente nesse aspecto e carrega uma atmosfera queer adorável que se acentua a medida que você passa a vê-la dessa maneira. Túlio e Miguel são inseparáveis, mas a relação calorosa entre Túlio e Chel só evidencia o ciúme de Miguel e o quanto que os dois amigos se amam — embora isso fique claro muito antes de chegarem em El Dorado.
Uma curiosidade bem interessante é que, apesar da história se passar numa cidade fictícia, num determinado momento, acontece um Jogo de Bola Mesoamericano. Essa tradição realmente existiu entre as civilizações antigas como os Astecas, os Maias e Olmecas.
Sem perder o tom, "O Caminho para El Dorado" carrega uma certa ousadia que pode ser considerada inadequada por parte do público, mas para mim, faz parte do charme irresistível do filme, que é muito à frente do tempo. Além do humor e aventura, esses aspectos mais obscuros e sem-vergonha, conseguem torná-lo único e atemporal. É preciso ressaltar ainda o charme da técnica de animação em 2D que, a meu ver, é insuperável.
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