Resenha: Poderia me perdoar?
Dirigido por Marielle Heller, roteirizado pela Nicole Holofcener e Jeff Whitty, e estrelado pela Melissa McCarthy e Richard E. Grant, "Poderia Me Perdoar?" (Can You Ever Forgive me, Estados Unidos, 2018) é um drama sobre uma pessoa ordinariamente genial e uma carta aberta sobre o que é a vida real.
Baseado numa história real, o enredo apresenta Lee Israel (Melissa McCarthy) uma talentosa escritora de 51 anos, que vive num apartamento entregue às moscas, numa Nova York na década de noventa.
Cheia de dívidas e sem receber um centavo de sua agente, Lee se vê na situação de tentar vender alguns livros usados e peças raras de sua coleção para sobreviver.
Após vender a carta de uma antiga celebridade de Hollywood — item que fazia parte de sua coleção —, Lee tem a "brilhante" ideia de produzir e vender, a partir de extensas pesquisas biográficas, cartas de caráter pessoal dessas personalidades. A partir daí sua vida começa a mudar pra melhor, até o momento que descamba de vez.
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Foto: Reprodução |
A personagem de Lee é antissocial, desleixada e sem papas na língua. Seu último relacionamento acabou há anos, e sua única companheira atual é uma gata idosa. Essa vida naturalmente pode despertar a empatia e identificação de muita gente, sendo potencializada quando vemos Lee ser desvalorizada no ambiente de trabalho. Um trabalho que reflete o cenário do mercado atual: ao invés de qualidade, o dinheiro.
Por mais que suas falsificações tenham lesado as pessoas, é compreensível, pelo menos a meu ver, as atitudes de Lee diante da sua falência existencial. Afinal, as contas sempre chegam.
A interpretação de Melissa McCarthy é um espetáculo. Uma atriz com o dom da comédia e que transcende também no drama. Poderia citar o discurso de Lee no tribunal como um exemplo disso, mas não há um momento que possa destacar pois são todos notáveis. Com esse papel, a atriz foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2019.
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Foto: Reprodução |
Num dado momento, entra na vida de Lee, um homem divertido e tão sozinho quanto ela, chamado Jack. É o único com quem realmente ela se tornará amiga. O ator Richard E. Grant, que interpreta o personagem, brilha tanto quanto McCarthy. Não é à toa que venceu vários prêmios da indústria e recebeu um indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por esse papel. A dinâmica entre Lee e Jack te convidam a rir e a chorar, e às vezes ao mesmo tempo.
Outras personagens e interpretações marcantes são a dona da livraria chamada Anna (Dolly Wells) com quem Lee tem um pequeno flerte, atravessado pela denúncia sobre suas falsificações, e a ex-esposa Elaine (Anna Deavere Smith), com quem tem um diálogo duro, mas muito coerente e sensível.
No caso de Lee, mesmo com uma condenação "branda", o crime compensou. Em 2008, Lee lançou sua autobiografia confessional que se tornou um sucesso, e que serviu de adaptação para esse filme.
A começar pelo título adorável, "Poderia me Perdoar?" é um filme que mostra sobretudo o quanto que relações de poder podem interferir na vida de um individuo. A sociedade encomenda o crime para depois punir quem o cometeu. Para a escritora, por mais estranho que pareça, o crime não só denunciou a hipocrisia do meio em que vive, mas revelou a sua genialidade e humanidade. Não teria como não perdoá-la.
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